Adoção: Por Amor, ou com exigibilidade de padrão constituído, com manual e garantia?

02/11/2013 03:02

 

Por Dra Regina A. Teixeira Bonotto

 

Você acha que sentimentalismo é piegas, então, foi por meio mesmo de quê, que você veio ao mundo?

Ah! Foi um acidente....mas ainda bem que a sua mãe não te jogou fora, porque não estava preparada para ser mãe, ela ainda não havia feito o curso, não havia frequentado todos os encontros, nem ido a todas as sessões da psico-social e ainda por cima, tinha as certidões negativas positivadas na civil e na criminal, ah, ia me esquecendo, ela estava tomando aqueles remedinhos anti-depressivos, porque andava chateada com o mundo, e reclamando de tudo pediu ao “médico do Posto mesmo” ou para aquela amiga/vizinha que é chegada da funcionaria do Hospital da Fundação aquela receitinha do antidepressivo e do ansiolitico para dormir.

Ei! E aí, você está esperando o quê, para denunciar a Vara da Infância que você é fruto de uma produção não planejada, e que o seu manual estava incompleto e agora, frustrado, quer exigir um filho exatamente contendo todos os itens dos seus sonhos, com certificado de garantia por toda vida?

Lá se vão quase 04 anos da mudança na Lei da Adoção, que criada com a intenção de melhorar as condições e garantias na adoção, chegou cheia de esperanças, mas o que realmente vem acontecendo é a burocratização dos atos preparatórios para os candidatos a pais, aumentando assim o tempo cronológico dos candidatos a filhos dentro das instituições acolhedoras, permitindo assim, que os meses e anos passados lá dentro estão sendo privados de um convivio familiar, seja este, definitivo ou provisório.

Enquanto isso, a lista de pequenos seres, pueris ou juvenis, com idade superior ao perfil solicitado, vem aumentando nos abrigos e casas lares, porque os candidatos a Pais, em uma busca frenetica, querem um filho, para ao contrário do que rege os direitos, satisfazer seus desejos e ambições, e não as necessidades e o direito do menor, que é o de ter uma familia, transformando assim, crianças em objeto de  desejo, mais ou menos valiosos, como se fossem mercadorias em leilão, expostas “em uma vitrine de demonstração”.

Digo vitrine de demonstração, porque aquelas familias, que visitam as instituições acolhedoras, não podem simplesmente olhar nos olhos de algum daqueles pequeninos e sentir o coração pulsar reciprocamente, porque conforme determina a Lei, tanto candidatos a pais como a filhos, a escolha é tirada de uma lista processada por um sistema que não possui sangue correndo nas veias, mas apenas carreia em seus fios, energia que não é de amor.

O sentimento não conta, a lei natural da vida, chamada de acaso ou coincidencia dificilmente terá vez, porque o amor fica em último plano, tratando crianças como mercadoria, em um tom quase assim: “se voces pais forem bonzinhos”, preencherem todos os requisitos da ficha, e passarem na prova final, ganharão o que pedem, se nao forem tão bons, poderão levar um menos valioso com  “uma kilometragem mais adiantada”.

Se ainda na embalagem (leia-se recem-nascido) tem um peso, se em outra embalagem (leia-se acima e 18 meses) tem outro peso, e se não houver embalagem alguma, necessitando de se construir uma (leia-se acima de três anos), então as possibilidades de um menor são remotas de poder ter o direito de viver naturalmente em um seio familiar.

O Perfil, “recem-nascido, branco, olhos claros, cabelos lisos, sem macula gestacional, DNA integro sem defeitos”, chega me fazer lembrar os horrores da segunda guerra.

Penso, que se alguém decide adotar uma criança, que isso se realize por amor, carinho e não por ambição.

Com toda a evolução cientifica, com todos os estudos e avanços decifrando o código genético, ainda assim, não há garantia, que se tiver um filho natural, na mistura dos genes, este poderá vir perfeito ao mundo.

Por outro lado, a Ciência foi dada por Deus aos homens para que dela se utilizem.

Cabe a cada um usa-la da maneira mais adequada, e para isso é que existe o livre-arbítrio, para que cada um seja responsável por suas escolhas.

Ocorre que filhos é uma dadiva, sejam eles biológicos ou não, por isso se você os tiver da forma natural, não poderá escolher como será, apenas torcer para que a genética cumpra seu papel. Mas se você quer ter um filho "padronizado e personalizado" utilize a Genética, para isso existem bancos de óvulos e espermatozoides e barrigas voluntarias. Com fichas descritivas: Alto, Loiro, olhos azuis, pele Alva, inteligente, obediente, etc. Agora se você não souber cumprir o papel e fazer seus talentos (filhos) renderem tanto quanto imagina que poderia ser, e no futuro ele vier a se drogar, roubar, matar, não culpe o sistema.

E Se acaso este filho foi fruto de uma adoção, não culpe a genética, nem a descendência, admita que você falhou como Pai ou mãe. Quem faz um filho, são os pais, por isso, não importa se ele é claro ou escuro, mais novo ou mais velho, quem determina o que ele será no futuro é a educação e os princípios que pai/mãe passarão para ele como Ser Humano.

Por isso, se decidir adotar, então Adote uma Criança sem traçar perfis, adote por amor, por você e por ela.

Se deseja e imagina um futuro, apenas trace uma possibilidade de uma nova trajetória com um futuro de muito amor e teremos assim, jovens e adultos que vão crescendo com caráter e personalidade repleta de sentimento.

Assim sendo, provavelmente diminuirá a criminalidade, porque haverá jovens amados e preparados, o Governo não precisará investir tanto na segurança comprando mais armas, mais carros, construindo presídios de segurança maxima, e que o dinheiro da segurança possa ser revertido para Educação, saneamento básico, pois assim, teremos menos doentes nos hospitais.

Mas para isso, todos nós precisamos acima de tudo, sermos responsáveis pelas pequenas mudanças, que somada, se transformará na "Grande Mudança", escolheremos melhor nossos dirigentes, e assim estaremos dando o exemplo aos mais jovens, que se utilizarão do nosso exemplo, e serão no futuro homens e mulheres responsáveis, pais e mães conscientes de seus papeis na sociedade e por fim teremos menos crianças institucionalizadas.

UTOPIA?!!! Não, só ESPERANÇA com o velho ditado:"de grão em grão se faz o pão".

Vamos Juntos Construir com pequenos gestos um futuro melhor, eu faço o que posso e você faz o que pode¹